Eu queria poder dizer que sei o que estou fazendo...
Mas pode ser que eu tanto não saiba, quanto não precise.
Muitas vezes isso costuma ser desculpa para um desejo compulsivo por controle, mas querer entender, compreender e até organizar sua vida, de um ponto onde ela faça algum sentido, parece uma boa ideia.
Afinal, analisar sua situação atual e trazer ordem para ela, deve trazer benefícios, né?… Ou será que não?
Ao longo do texto, você verá que me perco e me reencontro no assunto. E que, de maneira resumida, isso é a cerne de tudo que quero dizer.
Então: pega um café, arruma essas costas na cadeira, e faça uma boa pausa.
Já tem um tempo que não escrevo…
E, embora a escrita não enferruje, com alguma frequência, eu costumava me sentir culpado por isso. Mesmo ninguém me cobre, ou espere que isso seja escrito, eu tenho internamente um relógio do dever para quão afiadas minhas palavras devem estar… seguindo padrões arbitrários que eu inventava. Pensava eu.
A verdade é que esses padrões não são inventados. Eles são majoritariamente externos. São resultado de vida em sociedade, redes sociais e uma certa busca pela perfeição absoluta em tudo aquilo que fazemos, só que agora muito mais comum ao nosso século.
Uma busca um pouco burra, sejamos sinceros.
Ao menos enquanto desordem.
Bem, eu gosto de escrever. Faço isso de graça. Com gosto. Com apreço.
Só que alguém me disse que eu precisava ser muito bom nisso aqui para sequer começar. Ocultando que, eu preciso da prática para afiar a escrita, muito mais do que preciso dos méritos. E mais: me diziam que eu precisava fazer o que 99% blablabla, para alguém me dar valor.
Bem, hoje eu sei que isso é um absurdo. E não aprendi isso sozinho. Foram muitas newsletter e stories do
até isso virar um pensamento mais ou menos assim:O valor que dou para as coisas, é diferente do preço que me pagam por elas.
Mas não nos demoremos nessa frase. Eu não sou nenhum filósofo, apenas quero que guarde ela aí em algum lugar.
Fato é que deixar esses fatores me guiarem nunca deu certo, e cá estou escrevendo de novo.
Dando bois aos nomes…
Antes de irmos ao ponto (que é falar da falta de controle da sua vida, e porque isso não necessariamente é nocivo), eu gostaria de fazer uma pequena alteração em dois termos que me incomodam muito: perfeccionismo e procrastinação.
Eu sei que somos tentados a chamar esse desejo de controle de perfeccionismo, mas vamos escolher outra palavra agora. Que tal: afetação? Boa né?
Quanto à famigerada procrastinação, aqui está minha sugestão de nova palavra: covardia.
No limite da sua consciência, você sabe que isso não é mais do que vaidade, admita.
Analisando friamente, essas duas palavras (e seus respectivos sinônimos) refletem um problema fundamental no seu ego: você se acha bom demais para ser ruim. Pra passar trabalho. Pra apresentar uma coisa meia boca. Pra colocar a cara a tapa e receber uma crítica.
Na verdade, a chance é que a crítica nem surja e você caia no esquecimento. E aqui fazemos a distinção entre quem é afetado e quem é covarde.
Algumas pessoas vão esconder-se sob o traje da perfeição, querendo se mostrar sempre infalíveis e tal. Outras vão se precaver, ao lerem toda biografia das maiores autoridades do universo, fazerem cursos, ostentarem estudos… Até mesmo para cortarem as unhas do cachorro, jurando para si mesmas que só estão postergando pois tem motivos nobres e plausíveis para não ir lá e… fazer. (leiam as news do Censon).
Mas, reitero: isso é tudo parte da mesma coisa.
Dito isso, avançamos.
Certo, sobre o controle agora…
Não estou de nenhuma maneira escrevendo isso aqui para que você abrace o caos infinito do universo, escove os dentes com cerveja na terça-feira e decida ir trabalhar às 03h da manhã usando somente a cueca.
Uma vida completamente desordenada é um problema. Gravíssimo.
Mas não falaremos sobre os extremos aqui. Meu argumento é que talvez você esteja esperando controle “demais” das situações da sua vida. Ou, em termos diferentes: talvez você queira achar sentido para situações que talvez ainda não tenham, ou mesmo que não seja possível descobrir.
Um mapa só faz sentido sendo visto com referenciais e uma bússola. Se você não os tem, continuará perdido. E se os tem, talvez não precise do mapa.
E não são poucas as pessoas que acreditam que tendo somente o mapa nas mãos conseguirão alcançar tudo que desejam.
Seja por meio de um passo-a-passo para a riqueza, por alguma orientação mágica de um guru ou pela evolução infinita do seu corpo e capacidades cognitivas.
Nada disso terá a menor importância se não estiver certo de onde apontar. Se já não souber minimamente onde está.
E aqui faremos outra distinção: é muito diferente eu dizer que sei onde estou, ou seja, que entendi o que me ocorreu num passado, e como cheguei aqui (no presente)… De eu dizer que sei o que estou fazendo (para o futuro).
Pensa assim: para analisar sua situação, você precisa deste passado como referencial. Logo, você já tem o mapa de como chegou aí onde está. Seu presente é o próprio mapa.
Agora, para o futuro, você não tem como saber, porque ainda não foi traçado.
Claro que você pode ter indícios. Se eu me exercitar todos os dias, eu quase certamente estarei em melhor condição física no futuro. Mas as coisas complicam quando você pensa em coisas mais abstratas, como… o sentido da vida, por exemplo.
E é aqui que você não pode ficar se indagando muito.
Especialmente porque geralmente…
[…] Você não sabe onde quer chegar.
E se sabe, talvez não saiba como chegar. E se sabe, talvez não saiba quando vai chegar. E se sabe, talvez não saiba SE vai chegar.
Percebe como, mesmo nas melhores e mais previsíveis condições, sempre existe uma parcela de imprevisto?
Você pode morrer amanhã. Eu posso nem conseguir terminar de escrever isso aqui e ter um ataque fulminante do coração. Ok, talvez fosse previsível que isso pudesse acontecer depois de 1L de café antes das 9h da manhã.
A questão é que não importa quanta certeza você tenha. Quanta clareza sua vida tenha. Quanta confiança exista nas suas competências. SEMPRE há imprevisibilidade e buscar o controle absoluto da sua situação vai ser fonte de muita neurose na sua mente.
Então… eu não preciso saber o que estou fazendo?
Sim e não.
Eu não quero fingir que tenho um mapa universal para todo mundo, mas… Existem, sim, algumas situações e marcos que você deve colecionar para se orientar.
Eu sei que aí no seu interior você tem coisas que gosta mais de fazer. Coisas que tem mais afinidade. Coisas que tolera com mais facilidade. E todos esses são bons indicativos daquilo que poderá levar ao seu breve entendimento de como é uma vocação, um chamado à sua “verdadeira versão”.
Só que nem sempre isso estará estampado nas suas preferências.
Muitas pessoas descobrem-se tomando na cabeça. Passando por situações estressantes, difíceis, traumáticas. Por décadas de se sentirem perdidas e naufragando na própria vida.
Não tem receita de bolo aqui. Mas deixar a afetação e a covardia te guiarem, certamente não te ajudará nisso.
Eu não tenho o seu mapa.
Meu conselho é você sentar um dia e tentar entender, sem julgamentos, como chegou onde está, e tentar, o máximo que puder, encontrar algo que não foi embora nesse tempo. Sabe, aquela tábua do titanic que você sempre se apegou.
Algo que sempre voltou a te movimentar. Fizesse chuva ou fizesse sol.
Pode fazer isso escrevendo, desenhando, colocando tópicos numa folha, narrando sua história para si, ou (e eu recomendo) pedindo auxílio a Deus.
Se não encontrar de primeira, não desanime. Está aí. Sempre está.
Encontre esses marcos. Esses referenciais. Encontre o que te constrói e faz parte de você. Com isso e um objetivo (a que chamamos de bússola antes), você não precisará de um mapa. Ele vai se traçar sozinho, quando o seu eu do futuro olhar para você.
Talvez o segredo esteja na calma. Na paciência. E claro, na confiança da ação divina.
Eu sei, eu dei umas voltas extras no texto, mas vou culpar a falta de prática e me esquecer disso já já.
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Talvez existam outros perdidos por aí.
A.M.D.G.




Muito bom, Daniel! gostei bastante de ler